A retirada de ingressos será realizada duas horas antes do seminário, a partir das 8h, na bilheteria do Museu.
Será necessário o cadastro de e-mail, nome completo e a apresentação de um documento oficial na retirada do ingresso.
Cada ingresso é válido para 1 (um) dia de evento, sendo necessária a retirada em cada um dos dias.
Os certificados serão emitidos somente para os participantes que comparecem nos dois dias do seminário, e serão enviados para o e-mail cadastrado previamente.
10h-10h30
INTRODUÇÃO
10h30-12h30
EDSON KAYAPÓ
Muitas histórias indígenas: a história hegemônica sob suspeita
A produção da história indígena deve romper com a perspectiva eurocêntrica e com a tendência homogeneizante, bem como considerar a diversidade de povos e tradições, tanto no passado quanto no presente. De igual modo, deve observar e compreender a dinâmica própria da organização sociocultural destes povos, para analisar e perceber o entrelaçamento de diversos aspectos socioculturais em convergência: cosmologia, produção de artefatos para uso cotidiano, rituais e relações socioambientais, entre outros. A palestra buscará dar visibilidade e audibilidade a “outras histórias” indígenas, historicamente silenciadas e/ou pouco conhecidas na academia e na sociedade brasileira.
ARISTÓTELES BARCELOS NETO
Artes indígenas da Amazônia: repensando o diálogo entre coleções
A entrada das artes indígenas no cenário internacional de arte contemporânea teve um impacto importante na renovação do perfil curatorial de museus de antropologia e de história, em especial na Oceania e Europa, e permitiu uma inusitada aproximação entre antropologia e história da arte. As artes indígenas da Amazônia têm uma visibilidade ainda muito pequena em ambos os processos. Um dos desafios para a criação de novos sentidos para as artes indígenas da Amazônia e a renovação das heranças culturais que elas representam é a aproximação entre antigas coleções etnográficas de cultura material, especialmente as dos cinco principais museus antropológicos do Brasil, e as artes contemporâneas indígenas. No conjunto dessas coleções, há um outro tipo de coleção ainda pouco conhecida: a de desenhos indígenas sobre papel. A apresentação discutirá como essas coleções, que historicamente antecedem a emergência das artes contemporâneas indígenas na Amazônia, podem ser colocadas em diálogo com dois outros tipos de acervos que são tratados, no Brasil, de maneira fundamentalmente separada.
PEDRO DE NIEMEYER CESARINO
Objetificação e visualização nas artes ameríndias
A apresentação tratará de refletir sobre os dilemas relacionados ao estatuto dos objetos e das formas de visualização nas artes ameríndias, tendo em vista os potenciais conflitos com as estratégias ocidentais de exibição e coleção. O que implica a produção de um objeto nas ontologias xamanísticas? Em que medida objetos se distinguem e se relacionam com a composição da pessoa e da corporalidade? Qual é o estatuto da imagem aí produzida, bem como os seus critérios de acesso, circulação e duração? Uma vez direcionados para o campo de produção artística, para o seu regime específico de criatividade e de institucionalização – marcado pelo estatuto da obra, do autor e do público –, como podem se transformar os pressupostos originais relativos a imagens e objetos?
Mediação: Renato Sztutman (Universidade de São Paulo)
14h-16h
AILTON KRENAK
Uma história distintiva!
Uma história distinta envolve a relação dos povos indígenas com a produção cultural ou fazer cultura no Brasil. Em especial pela grande diversidade representada por estas culturas tão díspares e dispersas pelo território brasileiro. Pertencentes a mais de cinco matrizes linguísticas, guiados por cosmovisões e leituras de mundo plurais, com práticas e ritos próprios, esses povos constituem uma verdadeira constelação de “histórias” que está refletida na criação de objetos plenos de sentido. Objetos materializando sentidos, visões de mundos que são informados pela herança cultural desses povos, distintamente entre si e radicalmente opostos ao sentido de produção do objeto de arte no mundo ocidental – para o branco. Informar um debate sobre a produção cultural indígena no Brasil obriga a olhar onde está este imenso território no continente e sua implicação com os povos vizinhos na Bolívia, Peru, Colômbia etc., onde desde o início do século 20 e mesmo antes já se constituíram inventários e mesmo coleções completas, assim como acervos de arte indígena.
CLAUDIA ANDUJAR
Ajuda! Estamos pedindo ajuda
A fotografia surgiu na minha vida como uma linguagem e como uma necessidade de transmitir o que via e sentia, aprendendo a conhecer o Brasil e seu povo. Sempre curiosa e irrequieta, procurei uma linguagem com potencialidade de entender o outro. No Brasil, encontrei a fotografia como meio de comunicação com seu povo. Nasci na Suíça, mas fui criada na Hungria. Sem dúvida minha fotografia é marcada pelo meu passado, um passado de guerra com anos inesquecíveis do nazismo de extermínio de minorias, incluindo a morte de meu pai com sua família, por serem judeus. Foi esse repertório que acabou definindo minha trajetória. É através da imagem que cheguei a me conhecer e a entender o amor que nutro pela vida, de querer penetrar e captar o ser humano no seu íntimo; uma imagem que acaba de se refletir em mim.
MILTON GURAN
Frente a frente consigo mesmo
Os povos indígenas estão entre os temas mais fotografados no Brasil desde sempre. No entanto, na imensa maioria dos casos, o produto dessa documentação diz mais sobre aqueles que produziram as fotos do que sobre aqueles que foram fotografados. Em outras palavras, apesar de a imagem representada ser efetivamente a de um indígena, a forma de representação acaba dizendo mais sobre a cultura de quem fez a foto. Desde meados do século passado, quando as revistas ilustradas e os jornais chamaram para si a apresentação dos indígenas de forma mais abrangente, a situação se agravou, até pela maneira extensiva e intensiva com que os povos indígenas passaram a ser representados na mídia em geral. A partir da minha experiência pessoal, pretendo problematizar a questão da representação do outro que tão facilmente pode se contaminar com a representação de si.
Mediação: Rodrigo Moura (MASP)
10h30-12h30
ELS LAGROU
No caminho da miçanga: uma experiência curatorial, de pesquisa e de constituição de acervo qualificado
O projeto de pesquisa, a constituição de acervo qualificado e curadoria para a exposição intitulada No caminho da miçanga: um mundo que se faz de contas (Museu do Índio, 2015) serão objeto de reflexão para esta apresentação. O projeto nasceu de minha pesquisa com os Kaxinawá do rio Purus, cujos cantos rituais revelavam o alto rendimento cosmológico das contas de vidro enquanto materializações de relações complexas com alteridades múltiplas, desde o Inka canibal, destino póstumo dos mortos, às diferentes frentes de nawa, brancos, vindo de terras longínquas carregados de contas de vidro para trocar. A miçanga é item onipresente na arte corporal dos povos indígenas e tinha sido, até então, muito pouco documentado. O projeto contou com a colaboração de pesquisadores indígenas, antropólogos e linguistas de diversas instituições no país e no exterior e explorou, através da análise de ritos, mitos e narrativas de grande número de nações indígenas, como a conta de vidro conecta mundos visíveis e não visíveis, permite pensar a chegada dos brancos na vida dos indígenas e revela uma poderosa estética ameríndia de pacificação do branco.
LUX BOELITZ VIDAL
O grafismo indígena
O poder das representações gráficas, enquanto formas coletivas, provém, em parte, de sua presença tangível e das imagens que veiculam e dos conhecimentos que revelam. A experiência cotidiana e os valores tradicionais se tornam, pela expressão gráfica, uma linguagem visual compartilhada. Todas as artes indígenas, e o grafismo em particular, se apoiam em convenções formais para representar os objetos, eventos, seres, processos e relações sociais. Enquanto sistema de comunicação e expressão visual, a arte gráfica possui também uma função de memória social. Ela é ao mesmo tempo repetição de motivos e de estilos que definem cada cultura e a associação de temas, materiais e técnicas que expressam a criatividade de cada indivíduo. Estas manifestações gráficas também refletem o momento histórico vivido, incluindo os desafios e as modificações exigidas pela percepção individual das mudanças e a tradição a partir da qual o artista controla sua própria visão e se afirma enquanto representante de seu povo.
LUISA ELVIRA BELAUNDE
A pele da água: O kene Shipibo-Konibo e suas transformações contemporâneas
Os grafismos realizados pelas mulheres Shipibo-Konibo da Amazônia peruana cobrem a superfície dos corpos e dos artefatos com redes ou “cercas” de desenhos chamados kene. Esta apresentação examina as técnicas visuais de produção e percepção do kene e suas conexões com noções indígenas de luminosidade e pele. O uso de traços com diferentes cores e espessuras, contidos em múltiplas molduras, contíguas ou superpostas, resulta numa complexa experiência perceptiva onde as redes de desenhos na superfície de um corpo se conjugam às características tridimensionais do seu volume, gerando efeitos de animação. A pele assim desenhada aparece como um espaço profundo onde o olhar pode penetrar e viajar. Também examina as mudanças visuais recentes surgidas com a aparição de novas formas de pintura indígenas, em que os grafismos das mulheres são combinados à figuração.
Mediação: Regina Muller (Unicamp)
14h-16h
SANDRA BENITES
Ore Arandu (nosso conhecimento guarani): sobre Nheê – espírito-nome
Nesta apresentação, abordarei minha experiência como educadora nas escolas de Três Palmeiras durante sete anos. Havia desafios constantes e tentativas de colocar em prática quatro princípios obrigatórios pela Constituição de 1988: educação diferenciada, específica, bilíngue e comunitária conforme a educação escolar indígena. Existem conflitos entre dois mundos, o qual chamo de “olhares distorcidos das escolas sobre a educação guarani”, pois os processos de ensino e aprendizagem são diferentes. As maiores dificuldades do sistema escolar é respeitar as diferenças e executar as especificidades.
LUÍS DONISETE BENZI GRUPIONI
Das escolas para índios às escolas indígenas: mudando o eixo de uma história de longa duração?
A instituição escolar é uma velha conhecida dos povos indígenas, presente desde os primeiros tempos da colonização. Nas últimas décadas, em virtude do reordenamento constitucional ocorrido em toda América Latina, que implicou uma ampliação do reconhecimento dos direitos dos povos indígenas – em especial a garantia de territórios tradicionais e a valorização de suas identidades diferenciadas –, consolida-se a proposta de uma educação escolar intercultural, ancorada em noções como diversidade, diferença, especificidade, bilinguismo e interculturalidade. A escola indígena passa a constituir-se como um novo espaço de enunciação cultural, de pertencimento étnico e de afirmação política. Nesse processo, novos sujeitos foram constituídos, bem como novas políticas públicas foram formuladas pelos Estados Nacionais. Em sua implementação, elas têm oscilado entre políticas de inclusão e políticas diferenciadas. Estaria em curso uma mudança de paradigma na relação do Estado Nacional com os povos indígenas? Ou a escola indígena ganhou uma nova roupagem, mas se mantém tão colonialista como sempre foi.
Mediação: Amilton Mattos (Universidade Federal do Acre)
16h30-17h30
Um diálogo entre Davi Kopenawa e Joseca Yanomami
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